A terceira temporada de Drive to Survive (ou Dirigir para Viver) chegou a Netflix nesta sexta-feira (19), os fãs da Fórmula 1 correram para assistir e comigo não foi diferente.
As expectativas eram altas, considero alguns pontos atendidos, já outros deixaram a desejar. Contudo, em termos de produção o streaming continua fazendo o de sempre, mesmo com a pandemia atrapalhando o processo de gravação, eles conseguiram se virar bem com a situação e mostrar muito dos bastidores.
A narrativa é a mesma: muito drama e criação de história. Tem aqueles que não gostam e aqueles que não se importam, mas a Netflix acha que a formula traz resultado então mantém ela (sim vai rolar rivalidade que não existe e outras coisinhas mais).
Diferente da temporada anterior, esta conseguiu dividir os episódios e tempo de tela de maneira mais equilibrada, mas sim ainda fica desproporcional seja porque X equipe ou Y não quis participar ou porque a produção decidiu que não precisava colocar.
Também seguindo um caminho contrario das temporadas de 2018/19, a terceira temporada de Drive to Survive criou mais de um personagem caricato entre os chefes de equipe, agora ao menos cinco dividem um espaço bom na narrativa e um deles se tornou quase um narrador junto com o jornalista Will Buxton e a jornalista novata nos comentários da Netflix, Jennie Glow.
Porém, algumas coisas poderiam ter sido colocadas na narrativa de fundo (logo mais explico na parte com spoiler desse texto) que eles ignoraram completamente e fica até sem sentido! Os episódios individualmente tem uma jornada interessante, mas se colocar a temporada de ponta a ponta a narrativa linear se perde completamente.
São 10 episódios que acompanham um dos campeonatos mais históricos da categoria que vão ser discutidos agora de maneira detalhada, ou seja, a partir de agora tem SPOILER sobre a produção!
Se você ainda não assistiu pare AQUI!
Mesmo que a narrativa de Drive to Survive não seja linear com o campeonato, o primeiro capítulo retrata exatamente a pré-temporada e a situação alarmante do Grande Prêmio da Austrália que foi cancelado. Considerei um dos episódios mais certeiros e muito interessante ver eles recebendo as notícias ao vivo, como a NBA sendo cancelada e fronteiras fechando (foi de arrepiar), também deu um choque ver todos sem máscaras e como a vida era diferente até aquele preciso momento.
Depois disso a série vai e volta, ela foca muito em determinadas corridas e ignora completamente outras (saudades Turquia). Também vemos, Zak Brown, Toto Wolff e Cyril Abiteboul tento bons tempos de tela, enquanto Christian Horner saturou ao virar quase um narrador e agora não consigo tirar a imagem de “fofoqueiro do grid” que ele construiu. Uma das coisas que eu mais queria era um descanso do Gunther Steiner, e claro ele aparece, mas de forma menos forçada. Lawrence Stroll também teve seus momentos e foi interessante ver ele como homem de negócios e dono de uma equipe.
A produção conseguiu equilibrar bem a jornada dentro dos episódios com varias linhas paralelas, como no episódio sete que se divide entre Haas e Alfa Romeo, até alguns que a mistura narrativa foi maior, como no caso de “De volta as pistas” (segundo episódio) que foca no primeiro Grande Prêmio então intercala entre o pódio de Lando Norris e a Mercedes em disputa com a Red Bull Racing para ver quem leva o caneco.
Falando em Norris, o piloto é quem mais tem tempo de tela, ele realmente aparece muito e você para e pensa se não dava para ter cortado muita coisa da narrativa dele para por outras que faltaram. Valtteri Bottas também tem seu momento de estrela no terceiro episódio, trilha todo o papel dele de “segundo piloto” e força uma Mercedes “vilão” (para mim não colou), além é claro da imagem do momento: o finlandês nu.
Daniel Ricciardo continua sendo um personagem de brilho muito natural, então é fácil estar satisfeito com ele na tela (e é muito incrível ver o quanto Cyril é afetado e apegado ao piloto, achei bem coisa de gente emotiva).
A Ferrari mais uma vez ganha um episódio próprio, e a equipe é a vilão (assim como a Mercedes com Bottas), mas nesse caso é bem fácil de comprar a briga. Sebastian Vettel foi retratado como alguém que está querendo se manter inteiro psicologicamente até o fim da temporada, mas a escuderia não quer ajudar muito. A história de “Precisamos falar sobre a Ferrari” é construída em pura agonia para então dar o alivio final quando é anunciado que o alemão vai permanecer na categoria com a Racing Point, agora Aston Martin.
Outro episódio bem construído é o “O Retorno” que continua a jornada estabelecida por Pierre Gasly já na segunda temporada, mais uma vez eles trazem o lado emotivo sobre a morte de Anthonie Hubert e a insistência do piloto da AlphaTauri e da mídia para ele voltar a Red Bull Racing, ao mesmo tempo que mostra Alex Albon passando pela mesma luta que o francês enfrentou em 2019: não ser rebaixado ou demitido. O Grande Prêmio de Monza tem muito destaque aqui, afinal foi onde Gasly ganhou sua primeira prova na categoria, mas a corrida vai ser recapitulada em outros momentos da temporada (afinal foi um grande show).
Se a linha narrativa de Gasly continuou da segunda para a terceira temporada, uma que fez falta foi a da Williams! A Netflix não reservou nenhum espacinho para a despedida da família dentro da equipe, Claire Williams apareceu para alguns comentários, mas foi isso e seus pilotos foram tão ignorados quanto. Max Verstappen também ficou de fora da produção, mas por escolha pessoal.
Se a narrativa não linear funciona em algumas coisas, falha em outras. O movimento anti-racista e a campanha “we race as one” foi totalmente ignorada durante todos os episódios. Se você é alguém que não acompanha o campeonato vai ficar boiando sobre o motivo que a Mercedes de prata virou preta. Além disso, Drive to Survive ignora completamente a disputa do campeonato, não existe qualquer momento para falar sobre as performances de Lewis Hamilton, pelo contrario! A produção focou demais nos únicos momentos não brilhantes do piloto durante a temporada (punições e batida com Albon), ao ponto que a narrativa falha tanto que se ignoramos o que sabemos sobre o campeonato é de se questionar como Hamilton foi campeão em 2020.
Apenas nos últimos cinco minutos da temporada que a produção abre espaço para Hamilton falar sobre sua luta como homem preto dentro da categoria, é o discursos mais bonito da série, mas em pouco espaço de tempo e tela (e não, ninguém descobre porque a Mercedes está preta ainda).
Um ponto muito infeliz, mas que já era esperado, foi o excesso de imagens na hora de contar o acidente de Romain Grosjean. Foram cenas bem mais explicitas e que a FOM forneceu, afinal não foi televisionado aquelas imagens. Outro momento (que eu considerei um grande gatilho) foi colocarem o vídeo do assassinato de George Floyd, ficou com um tom de puro exibicionismo e muito desnecessário.
De modo geral achei que a série poderia ter sido melhor elaborada, os episódios funcionam sozinhos, mas não como conjuntos, mas em vista das condições que eles tinham e da liberdade em relação a alguns pilotos e equipes, foi um bom trabalho visual.
E ao que tudo indica a quarta temporada está confirmada! A equipe da Netflix já está no paddock desde a pré-temporada recolhendo registros.
O que vocês acharam da nova temporada?
Resenhas: 1ª temporada e 2ª temporada
Surpreende não terem feito nenhum comentário a respeito do desastroso 8° episódio, que cria um atrito inexistente entre Sainz e Norris e insinua até uma conspiração interna contra o Sainz após anunciar que iria pra Ferrari (esse episódio foi totalmente sem fundamento). No geral é perceptível que a Netflix está alinhada com os interesses da Liberty Media, popularizar a F1 e expandir para novos públicos. Drive To Survive não foi feito para os amantes de F1, foi feito pra atrair nova audiência, por isso tantas polêmicas e intrigas, o que chama atenção hoje em dia é isso. Pra mim que acompanhei a temporada 2020 de cabo a rabo a temporada 3 não acrescentou nada, sendo que é isso que se espera tendo acesso aos bastidores. Pra falar a verdade a única coisa que acrescentou mesmo foi o Gasly ter deixado claro que o intuito dele era voltar a Red Bull, muito se falou sobre mas não havia visto nenhuma declaração vinda direto dele. Sinceramente, a temporada 3 soou tão artificial que qualquer coisa que tenha sido dita me trás desconfiança se tudo não passa de falas sendo lidas (o que ficou extremamente explícito na treta artificial entre Sainz e Norris). Falas colocadas em momentos errados e fora de contexto foram incontáveis, como o Vettel xingando em alemão na Áustria após o Leclerc bater nele sendo que todos sabemos que ele disse isso quando eles bateram no Brasil em 2019. Eu entendo os rumos que o marketing da F1 está tomando pra popularizar a categoria, mas pra mim que já sou fã não tem como não ficar frustrado. E mesmo que atraiam audiência acho desonesto que seja feito com tanto sensacionalismo, em alguns momentos me senti assistindo aqueles canais de polêmica e trollagens (forjadas e combinadas) do YouTube. Triste!
Não citei Lando+Carlos por espaço mesmo, isso é algo que vou discutir mais para frente em live hahaha.
Mas sim concordo com vocês em tudo, por isso no twitter até deixei claro: leve como entretenimento e não documento.
Na primeira temporada eles já haviam criado uma rinha entre Max e Daniel totalmente forçada, chega a ser estranho eles continuarem com esse discurso sendo que os fãs já desaprovaram desde o início.
Acho que a série é feita nós mesmo moldes que a transmissão da Globo também era feita, ou seja, para tentar agradar principalmente aqueles que não tem tanto interesse na F1. Já que nós que gostamos assistiremos de qualquer jeito.
Também acho Paulo! Claramente é uma narrativa para quem não acompanha F1 e mesmo assim a produção falha com eles, porque deixa muita coisa em aberta.