Parece glamoroso ser o único em algo, mas se você levar esse contexto a algumas circunstâncias não parece ser tão divertido assim!
Bia Figueiredo, hoje, é a ÚNICA mulher pilotando na Stock Car, e uma das poucas mulheres que se arriscaram tão a fundo nesse esporte dominado pela presença masculina. Ela me contou um pouco de sua trajetória e de como o gênero foi uma barreira em sua vida.
O Encontro
Era sexta-feira – dia 6 de abril – a frente dos boxes da equipe Ipiranga da Stock Car. Eu me encontrava em grande êxtase! Tinha conseguido uma exclusiva para meu recém-nascido site e não era com qualquer pessoa. Era com Bia Figueiredo, a figura feminina mais forte das pistas brasileiras.
No dia anterior já tinha me introduzido e contado sobre meu trabalho e minha vontade de fazer uma entrevista com ela, que prontamente aceitou. Naquela quinta, eu a persegui durante o dia inteiro! Porém, por conta de reuniões e horários ela não pode me atender. No dia seguinte estava eu lá de novo, com meu celular, uma lista de perguntas e muita vontade de escrever sobre a Bia.
Depois de ter conversado com sua engenheira, Rachel Loh, fiquei em seu aguardo, que muito requisitada não parava de dar depoimentos a quem aparecia naquele box.
Fiquei receosa quando por fim ela apareceu, afinal, eu não tinha sido muito delicada nas abordagens do dia anterior. Contudo, a primeira troca de palavras que tivemos dentro daquela salinha amarela foram por parte dela “desculpe por não ter conseguido fazer a entrevista ontem”.
Mais relaxada me concentrei no que fui ali fazer e no que eu poderia tirar dela. Sentada a minha frente, recém vinda de um treino e com celular nas mãos, Bia Figueiredo me passou um ar de confiança no que ali fazia e de grande responsabilidade, os pensamentos dela estavam focados tanto em mim, quanto talvez no resultado daquele treino em questão.
Carreira e Desafios
Desde pequena Bia se diz apaixonada por adrenalina e à primeira vista de um kart se encantou por aquilo. A piloto contou com o apoio dos pais para entrar no automobilismo, tanto moral quanto financeiramente, por ser um esporte muito caro!
Com muito orgulho ela contou sobre o caminho que trilhou para chegar ali. Sem eu nem precisar questionar, a piloto relatou que a época do kart foi a mais difícil na questão do machismo e preconceito dentro do esporte, “não tinha mulheres correndo, eu era a única, ninguém queria perder para mim”.
Era palpável o ar de seriedade de Bia ao relatar esses desafios, e então a mudança de tonalidade na conversa enquanto ela contava suas conquistas profissionais. Sendo a primeira mulher a vencer na Fórmula Renault e na Indy Lights, ela não deixa de exaltar a ajuda que teve para chegar naquela posição que hoje se encontra “André Ribeiro e Cesário estruturaram minha carreira para o fórmula”.
Após meu questionamento sobre a possibilidade de ter entrado na Fórmula 1, ficou claro o quanto uma mulher deve ser firme e resistente em um ambiente como o do automobilismo: para ela, 2007 foi um ano sabático, com tentativas em campeonatos europeus e americanos. Os britânicos sendo uma grande porta de entrada para a maior categoria do esporte a motor, não pareceram dispostos a deixar seus pré-conceitos de lado e dar uma chance para Bia, “a Europa é muito fechada, apesar de ter ido bem nos treinos, tinha-se um mega preconceito … primeiro ou você tinha dinheiro ou esquece, e a questão de ser mulher até para os ingleses era meio bizarro, com aquele ar sarcástico era meio impossível!”, a F1 ficou para trás.
Em contrapartida, nos Estados Unidos quando ela mostrou bons resultados a reação foi diferente, “a equipe me abraçou”, lá ela conseguiu patrocínios, algo que é de extrema importância para seguir no esporte! E então deu partida ao rumo que a traz para a Stock Car atualmente.
Sobre a declaração de Carmen Jordá (que afirmou ser mais fácil as mulheres focarem seus esforços em campeonatos com carros elétricos ao invés de uma F1, por teoricamente, ter um físico mais fraco) Bia foi bem direta, “bom, estou a 25 anos correndo e vencendo corridas contra homens!”, ela explica que não é fácil manter o físico, precisa de treino e disciplina, mas isso não a impossibilita de estar ali competindo como igual.
Mesmo com toda a dificuldade enfrentada para estar na posição de ser a única mulher na Stock Car hoje, ela conta com o respeito de todos a seu redor: mecânicos, pilotos e engenheiros. E se mostrou imensamente agradecida quando mencionei os fãs, “eu tenho uma grande sorte, a minha torcida é a melhor do mundo; estando bem ou mal, eles sempre me mostram apoio”.
Sobre o futuro? O foco está na temporada da Stock, e a meta do ano é ser a primeira mulher na categoria a subir ao pódio!
Sem me privar de ser admiradora, pedi uma foto para deixar guardada de recordação. Não é todo dia que se fala com uma das mulheres mais incríveis do automobilismo atual.
A determinação de Bia Figueiredo em não desistir, é hoje e deve ser sempre, um incentivo para muitas meninas que querem se arriscar. O caminho, como aqui contato, é difícil, mas não impossível!